
“…não consigo lembrar-me de qualquer delito, por menor que seja, do qual possa ser censurado. Mas pelo visto, isso não tem qualquer importância; a verdadeira pergunta é: quem me acusa? E por que me acusam? Qual a autoridade que instaurou este processo? Estes senhores são dignos representantes da lei?” (Franz Kafka)
Na manhã do seu 30º aniversário, Joseph K. é despertado e, em vez do café da manhã, recebe uma ordem de prisão sem qualquer explicação lógica. Começa aí uma espécie de pesadelo burocrático que o levará à ruína psicológica, moral e física.
A justiça o fará passar por audiências, cartórios, salas de espancamento e tribunais, sem que ele nunca saiba de que crime é acusado. Como típico anti-herói kafkiano, ele se resigna e nunca tenta escapar das garras da justiça, ao contrário, acata o estranho rito processual, esperando pelos acontecimentos futuros e pelos próximos trâmites do processo.
No entanto, em nenhum momento são apresentados a ele os autos acusatórios, ficando, assim, impedido de saber o crime que teria cometido. Joseph K. permanecerá titubeante, numa busca por respostas que não virão, e que o levará em direção ao completo auto-aniquilamento.
A coreografia e o ambiente cênico procuram acessar o universo psicológico e angustiante, insólito e sinistro, elementos muito presentes no universo kafkiano. É a culpa, carregada pelos corpos, que acusa e condena ao mesmo tempo. Suas sentenças já estão decretadas antes do veredito final.
Estreia em 08/11/2003 no Viga - Espaço Cênico/SP.
FICHA TÉCNICA
Concepção, Coreografia e Direção: Sandro Borelli
Elenco Original: Diogo Almagro, Marcos Suchara, Paulo Vinícius, Renata Aspesi, Roberto Alencar, Sandro Borelli, Sônia Soares e Veridiana Zurita
Desenho de luz: Cibele Forjaz
Trilha: Gustavo Domingues